sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Querido diário...


... sabe quando a saudade vem, e tenta-se não criar tanta espectativa sobre o motivo dessa saudade...?
E quando, mesmo assim, fica-se com aquela vontade de ver alguém, mesmo jurando que não seja "criar uma espectativa"...?
E quando essa "saudade-espectativa" é recompensada...
E com lindos olhos, lindos sorrisos...
... e com um cheirinho do perfume que não se sabia que "saudade-espectativa" tinha...?
Então, sabe quando isso acontece e...

Aaaah, licença... vou ser feliz!

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Carta anônima

Para ler ouvindo The Blower's Daughter, do Damien Rice, ou Constellations, do Jack Johnson.
Ou melhor, Green Eyes, do Coldplay, que faz mais sentido.
Carta com endereço, mas sem remetente...

Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assentada aos poucos e com mais força enquanto a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos. Tão transparentes que até parecem de vidro, vidro tão fino que, quando penso mais forte, parece que vai ficar assim clack! e quebrar em cacos, o pensamento que penso de você. Se não dormisse cedo nem estivesse quase sempre cansado, acho que esses pensamentos quase doeriam e fariam clack! de madrugada e eu me veria catando cacos de vidro entre os lençóis. Brilham, na palma da minha mão. Num deles, tem uma borboleta de asa rasgada. Noutro, um barco confundido com a linha do horizonte, onde também tem uma ilha. Não, não: acho que a ilha mora num caquinho só dela. Noutro, um punhal de jade. Coisas assim, algumas ferem, mesmo essas que são bonitas. Parecem filme, livro, quadro. Não doem porque não ameaçam. Nada que eu penso de você ameaça. Durmo cedo, nunca quebra.

Daí penso coisas bobas quando, sentado na janela do ônibus, depois de trabalhar o dia inteiro, encosto a cabeça na vidraça, deixo a paisagem correr, e penso demais em você. Quando não encontro lugar para sentar, o que é mais freqüente, e me deixava irritado, descobri um jeito engraçado de, mesmo assim, continuar pensando em você. Me seguro naquela barra de ferro, olho através das janelas que, nessa posição, só deixam ver metade do corpo das pessoas pelas calçadas, e procuro nos pés daquelas aqueles que poderiam ser os seus. (A teus pés, lembro.). E fico tão embalado que chego a me curvar, certo que são mesmo os seus pés parados em alguma parada, alguma esquina. Nunca vejo você - seria, seriam?

[...]

Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você. Assim: de repente ao dobrar uma esquina dou de cara com você que me prega um susto de mentirinha como aqueles que as crianças pregam umas nas outras. Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar um sorvete, suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de frutas em qualquer lugar.

[...]

Tenho trabalhado tanto, por isso mesmo talvez ando pensando assim em você. Brotam espaços azuis quando penso. No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um pouco tolo, meio melodramático, e penso então tule nuvem castelo seda perfume brisa turquesa vime.

[...]

Demora tanto que só depois de passarem três mil dias consigo olhar bem dentro dos seus olhos e é então feito mergulhar numas águas verdes tão cristalinas que têm algas na superfície ressaltadas contra a areia branca do fundo. Aqualouco, encontro pérolas. Sei que é meio idiota, mas gosto de pensar desse jeito, e se estou em pé no ônibus solto um pouco as mãos daquela barra de ferro para meu corpo balançar como se estivesse a bordo de um navio ou de você. Fecho os olhos, faz tanto bem, você não sabe. Suspiro tanto quando penso em você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente. Caminho mais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe.

[...]

Caio Fernando Abreu
"Pequenas Epifanias"
O Estado de S. Paulo, 16/03/88
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domingo, 11 de fevereiro de 2007

Para você, minha querida!

Tá... minha irmã tem um blog!
E pediu que postasse neste final de semana...
Acabei de baixar "Songbird" ao vivo [uaaaaau!]...
Mudei o nome do meu blog... ["êta vidinha da boa" tava me enchendo...]
Falei com um amigo que não falava a muuuuuito tempo [todas as saudades, do mundo, dele]
E-e-e-e, em homenagem a minha irmã... minha irmã mais querida, um poema...
Um poema "para você..."

[E.E.Cummings]

carrego seu coração comigo
eu o carrego no meu coração
nunca estou sem ele
onde quer que eu vá,
você vai, minha querida
e o que quer que seja feito,
somente por mim,
é feito por você, minha querida
não tenho medo do destino
pois você é meu destino, minha doçura
não quero o mundo pois você, linda,
é meu mundo, minha verdade
e você é o que qualquer lua tenha sempre significado
e o que quer que um sol cantar
será sempre você

aqui está o mais profundo segredo
que ninguém sabe
aqui está a raiz da raiz
e o broto do broto
e o céu do céu
de uma árvore chamada vida;
que cresce mais alta do que a alma pode ter esperança
ou a mente pode esconder
e essa é a maravilha que mantém as estrelas separadas
carrego seu coração
eu o carrego no meu coração